sexta-feira, julho 18, 2008

Adultos não conseguem amadurecer





Vou ler depois com calma. Li por alto e afinei com a Graciela. Mas também acredito que o aspecto cultural é muito forte.
Aqui no Brasil protegemos em excesso, em outros países não.
Seria a herança ibérica? O que você acha?
Este artigo está no UOL,copiei para quem não é assinante. Artigo do El País
Ah! e eu adoro o Homer Simpson, é demais. :)



18/07/2008

Adultos não conseguem amadurecer e querem continuar sendo crianças

Joan Carles Ambrojo

Alguns adultos estancaram no caminho para a maturidade, do mesmo modo que encontramos adolescentes que demoram a assumir a independência. Com freqüência se vêem referências a essas pessoas como afetadas por uma síndrome ou um complexo de Peter Pan. Segundo especialistas, não existe essa síndrome. O que acontece é que as mudanças sociais e familiares das últimas décadas aumentaram o infantilismo de alguns adultos, que cresceram sem ter o referencial dos pais.

Encontramos na vida real muitos Homer Simpson, adultos que têm dificuldade para crescer e amadurecer emocionalmente? O que acontece com alguns jovens que se instalam em uma eterna adolescência, negando-se a assumir as responsabilidades e tomar as rédeas de sua vida?

Renunciar a ser adulto e instalar-se na imaturidade como tentativa de permanecer na eterna juventude é o que caracteriza as pessoas que se regem pelo que é popularmente conhecido como complexo de Peter Pan. Os especialistas, no entanto, não admitem a existência desse suposto transtorno, que de fato não aparece na lista do DSM-IV, o manual de diagnóstico de transtornos mentais da Associação Psiquiátrica Americana, que é utilizado como manual de referência em todo o mundo.

A popularização da suposta síndrome se deve em boa medida a Dan Kiley, o psicólogo americano que publicou em 1983 o livro "A Síndrome de Peter Pan" - a pessoa que nunca cresce, baseada no personagem da obra do britânico James Matthew Barrie, editada em 1904. Mais tarde, Kiley complementou o tema com a publicação de "O Dilema de Wendy", no qual trata das mulheres que protegem indevidamente os homens como se fossem suas mães e assumem suas responsabilidades. É um estilo de vida que continua tendo seus adeptos. Nos EUA batizaram os jovens que demoram a amadurecer de Geração Odisséia, segundo William Galston, pesquisador do Instituto Brookings.

Sabel Gabaldón Fraile, psiquiatra do Hospital de Sant Joan de Déu de Barcelona, é definitivo: "Não está tipificada como síndrome. Não é nada mais que um fenômeno social, a dificuldade de crescer". Gabaldón opina que o "peterpanismo" é apenas uma tentativa de alguns profissionais de buscar artifícios literários.

Forma de vida adolescente
Segundo explica o especialista, o conceito abrange uma série de comportamentos que podem ser muito comuns em determinados adultos de nossa cultura e nosso ambiente, e que "têm a ver exatamente com a atitude também cultural de infantilização, de extrema dependência, que muitas vezes adotamos em várias famílias, ou inclusive da própria cultura em relação às crianças e adolescentes, de poupá-los de frustrações, protegê-los excessivamente. Isso gera situações de prolongamento excessivo da adolescência e de comportamentos imaturos que ocorrem inclusive na idade adulta".

Outros autores pensam de forma diferente. Para a psiquiatra Graciela Moreschi, o eterno adolescente é alguém para quem a adolescência é uma forma de vida, e não uma etapa evolutiva: "Isso significa que a independência não é uma meta". Segundo Moreschi, que publicou um livro de divulgação sobre esse fenômeno, com essas atitudes essas pessoas têm como prioridade desfrutar o momento. Se ganham dinheiro o utilizam em saídas, em roupas caras, um automóvel, uma moto ou viagens, e se não ganham continuam dependendo de seus pais.

"Muitas vezes o estudo é o passaporte que lhes permite ficar instalados na adolescência, porque não terminaram a carreira, ou porque passam de uma para outra. Eles demoram para assumir qualquer tipo de compromisso porque não podem escolher algo permanente, inclusive ter um parceiro. A grande quantidade de opções que têm lhes causa dificuldade para escolher, porque ao fazê-lo renunciam às outras possibilidades", diz Moreschi.

São comportamentos cristalizados em um momento da vida, continua a psiquiatra, e, portanto, em vez de evoluir essas pessoas se desgastam. "Muitos dos pais desses adolescentes estão do mesmo lado, não há diferenças, e os jovens não terminam de se individualizar como indivíduos maduros; não existe um outro que lhes permita realizar esse processo." A diferença entre os eternos adolescentes e os adultos ainda com atitudes imaturas é que estes cuidam de si mesmos, enquanto os eternos adolescentes não foram capazes de separar-se da família.

Javier Elzo, catedrático emérito de sociologia na Universidade de Deusto e presidente do Fórum Deusto, diz que o fato mais evidente e comprovado é que há um prolongamento do hábitat dos adolescentes e jovens no domicílio familiar até extremos incríveis. E a Espanha tem uma das porcentagens mais baixas de emancipação familiar. As principais razões são a carestia da habitação, que torna a emancipação complicada, e em segundo lugar o caráter precário do trabalho.

Outra característica dos adolescentes atuais é o presentismo, ou seja, querer tudo já, imediatamente. É um fato que a maturidade está se retardando, "mas também encontramos jovens menores de 20 anos extremamente maduros, que são os que diante da dificuldade de encontrar o ninho familiar vazio [pais com pouca presença], por razões fortuitas ou não, começaram a assumir seu destino muito antes do que teríamos feito em nossa geração".

As transformações sociais e familiares das últimas décadas fizeram, segundo Elzo, que os adolescentes e jovens que Eduardo Verdú batizou em um livro de "adultescentes" decidissem ficar em casa fazendo o que querem - "esses são os Peter Pan, os que saíram de casa ficando. É evidente que há um problema muito sério de referências".

Pais "desorientados"
Para Elzo está claro que existe um problema de falta de referências nos pais, embora considere que os que estão mais desorientados são os próprios pais: "Qual é o modelo que pode ter uma pessoa de 40 anos? Seu pai não serve porque lhes dizem que é um antiquado, de outra época, que tem outra forma de ver as coisas; não se deve esquecer que os pais dos adolescentes de hoje são os que fizeram a transição espanhola, e neste momento muitos deles não sabem o que fazer com seus filhos".

Com a incorporação das mulheres ao trabalho, acrescenta o sociólogo, os filhos vivem em um ninho vazio, "e encontramos jovens com precariedade psicológica. Como vão sair de casa se seus pais os consideram muito crianças? Mudam, isso sim, quando chega seu primeiro filho e têm de pagar a hipoteca", afirma Elzo.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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